
A maioria das pessoas imagina que as lutas marciais têm por objetivo principal
a defesa pessoal, fisicamente falando. É verdade que normalmente o indivíduo praticante
é uma pessoa bastante forte, de personalidade, e com energia e técnicas de defesa
pessoal, fisicamente falando, bastante aprimoradas e cientificamente estudadas e testadas,
em inúmeros combates antigos e em competições modernas. Porém estas qualidades são
apenas uma das conseqüências dos treinamentos marciais, elas são atribuições vindas por
acréscimo dentro de uma meta muito mais profunda, importante e superior.
As lutas marciais, na verdade, têm como seu verdadeiro objetivo, ser um caminho
alternativo para as nossas buscas de soluções aos problemas que a vida nos apresenta,
tentando ser uma solução para nossas dificuldades. Assim, este caminho – o “DO”
– aberto inicialmente pelos hindus e chineses e posteriormente pelos japoneses tem várias
correntes:
-
JUDO;
-
AIKIDO;
-
KARATE DO;
-
KENDO;
-
IKEBANA;
-
KYUDO;
-
CERIMÔNIA DO CHÁ;
E outras dezenas de caminhos.
Todos os mestres afirmam que sua arte é fundamentalmente um treinamento para a vida,
uma filosofia, um caminho para se resolver os desequilíbrios vitais e atingir a felicidade.
AS ORIGENS
As artes marciais atuais têm suas raízes mais remotas por volta do de 5000
anos a.C., quando na Índia surgiu uma luta cujo nome em sânscrito era “Vajramushti”,
cuja tradução literal significa punho real ou punho direto. Era uma arte guerreira da casta
Kshatriya (portanto, praticada por nobres apenas) foi uma arte marcial que se desenvolveu
simultaneamente com práticas de meditação e estudo dos antigos clássicos hindus
(por ex: os Veda, Gita, os Purana). Esta arte marcial foi incorporada ao budismo, pois seu
criador era um príncipe e, portanto, um conhecedor da mesma (Sidarta Guatama – o Buda
histórico).
Quase mil anos após a morte de Buda, Bodhidarma, que era filho do rei Sughanda,
tornou-se o 28o patriarca do budismo e viajou à China a convite do imperador
Ling Wu Ti, mas como tinham opiniões divergentes de como alcançar a iluminação, Bodhidarma
(ensinava que a união do corpo com a alma é algo indivisível para chegar à
verdade e a paz) foi ao reinado de Wei, província de Honan, e hospedou-se no templo
Shaolin. A lenda conta que quando Bodhidarma chegou ao templo encontrou os monges
numa condição de saúde tão precária, devido às longas horas que eles passavam imóveis
durante a meditação, que ele imediatamente se preocupou em melhorar-lhes a saúde.
Valorizando o vajramushti como auxiliar do homem em sua pesquisa interior,
os monges budistas se desenvolveram enormemente nesta arte marcial e o templo Shaolin
ficou mais famoso, como centro de artes marciais, do que de budismo, efetivamente. Os
ensinamentos de Bodhidarma são reconhecidos pelos historiadores como a base de um
estilo de arte marcial chamado de Shaolin Kung Fu.
Os templos Shaolin foram destruídos e saqueados por ordem do governo chinês
e apenas cinco monges escaparam, enquanto todos os demais foram massacrados pelo
exército manchú. Os cinco sobreviventes tornaram-se conhecidos como “Os Cinco Ancestrais”
e vagaram por toda China, cada um ensinando sua própria forma e visão de
Kung Fu. Considera-se que este fato deu origem aos cinco estilos básicos de Kung Fu:
Tigre; Dragão; Leopardo; Serpente e Grou.
O OKINAWA TE
A história conta que o rei Hasshi, para evitar as revoltas, proibiu o uso de armas
aos habitantes de Ryu Kyu1. Tal proibição não impediu que o povo da pequena ilha
de Okinawa improvisasse armas de artefatos agrícolas:
Mais tarde Shimazu conquistou a ilha e proibiu mais uma vez o uso de as armas novamente.
Dado que Ryu Kyu pertencia à China, sob a dinastia Ming, havia uma crescente
imigração da corte imperial e sem se aperceberem, eles introduziram as técnicas de
lutas chineses na ilha. Com a nova proibição, os treinos se tornaram secretos e os alunos
passaram a ser escolhido com muito cuidado, treinando-se firmemente fazendo com que
as mãos e os pés se tornassem armas eficazes contra espadas, facas e armaduras. O nome
genérico dado às formas de luta na ilha foi “TE”, que significa mão.
Havia três principais núcleos de “Te” em Okinawa, estes eram nas cidades de
Shuri, Naha e Tomari. Conseqüentemente os três estilos básicos tornaram-se conhecidos
como: Shurite; Nahate e Tomarite. E todos eram conhecidos como Okinawa Te.
O Shurite veio a ser ensinado por Sakugawa, que ensinou a Matsumura Sokon
que por sua vez transmitiu esses ensinamentos a Itosu Anko. O Shurite foi o precursor
dos estilos japoneses que eventualmente vieram a se chamar:
-
SHOTOKAN;
-
SHITO RYU;
-
ISSHIN RYU.
O Nahate tornou-se popular devido aos esforços de Higaonna Kanryo, tendo
este aprendido a arte com Arakaki Seisho e o seu aluno mais ilustre foi Miyagi Chojun,que também estudou na China e mais tarde desenvolveu um estilo conhecido atualmente
como Goju Ryu.
O Tomarite foi desenvolvido juntamente por Matsumora Kosaku e Oyadomari
Kosaku, sendo que os dois professores mais famosos desta época Motobu Chokki e
Kyan Chotoku foram discípulos dos dois anteriores respectivamente. Até então o Tomarite
era largamente ensinado e influenciou tanto Shurite como Nahate.
Azato Yasutsume orientou os primeiros passos de Funakoshi Gichin e posteriormente
o companheiro e amigo Itosu foi quem ficou responsável pelo aprendizado do
jovem Funakoshi. Com Azato a filosofia de treinamento era chamada “Hito Kata San
Nen” (um kata em três anos).
No começo do século XX (aproximadamente 1900) o Karate foi reconhecido
como um método eficiente de condicionamento físico e educação sendo então ensinado
nas escolas públicas da pequena ilha e o responsável por esta introdução foi o Mestre Itosu.
O ensino do Karate tornou-se oficial a partir de 1902 quando da visita do inspetor da
prefeitura de Kagoshima à escola onde Funakoshi ensinava e este organizou uma demonstração
para o ilustre visitante.
No final do ano 1921 o Príncipe Hirohito convidou Funakoshi para fazer uma
demonstração de Karate em Tóquio, a exibição de Kata (Kanku Dai, o preferido de Funakoshi)
foi um sucesso total. Após esta demonstração, Funakoshi foi assediado para permanecer
em Tóquio e ensinar sua arte que tanto maravilhou os japoneses.